sábado, 27 de fevereiro de 2010

Poesia - Viver?

Viver invejando
gregos e troianos,
se conformando em viver
sempre por baixo dos panos.
Viver escondendo as ânsias,
na inútil busca do recato,
quando a lascívia quer se mostrar
como vendaval,
em puro desacato à sensatez.
Viver escondendo a própria loucura,
cura da monotonia,
razão de orgulho e paixão.
Viver sendo a ideal sem-graça
quando meu real disfarça
pra não chocar os frustrados...
Será viver?

Ana Lucia Sorrentino em Alento(2007) - coletânea de poesias, à venda através do e-mail analugare@yahoo.com.br

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Poesia - Meia-Noite (Alento, 2007)

É meia-noite
e os sinos não tocaram.
Eu não tive nenhum pressentimento
nem compartilhei com alguém
a transmissão de um pensamento.
Eu não temi,
não tremi,
não estremeci.
É meia-noite e é como se fossem duas da tarde.
Eu não apaguei as luzes,
não fechei os olhos,
não dancei uma valsa.
Não me abracei a ninguém.
É meia-noite
e os sons continuam diurnos,
indiscretos.
Ninguém sussurra ao meu ouvido,
ninguém me beija,
ninguém me encara,
ninguém me ama.
É meia-noite e ninguém chora,
ninguém geme,
ninguém cala.
É meia-noite e o lobisomem não veio.
Nem o vampiro.
É meia-noite
e nenhum suspiro forte
pode cortar o silêncio,
porque nem ao menos
há o silêncio próprio da hora.
É meia-noite e eu escrevo,
como em tantos dias, tantas manhãs
ou madrugadas.
Não há o clarão da lua,
não há uma silhueta de mulher nua,
não há nada.
É meia-noite
e eu não estou apaixonada.

Ana Lucia Sorrentino em  Alento(2007) - coletânea de poesias,  à venda através do e-mail analugare@yahoo.com.br

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Abrindo Meu Diário VIII - reflexões para Desromance

Hoje assisti Brilho eterno de uma mente sem lembranças ( http://www.youtube.com/watch?v=w4_ce4MyNcc ).  Aliás, assisti ontem, hoje fiz questão de assistir de novo. Me apaixonei pelo Jim Carrey. Aquele aloprado de todos os outros filmes sumiu e apareceu o cara mais doce do mundo! E que história incrível! É tão bom quando a gente assiste um filme inteligente e romântico... Achei tudo demais. O filme é impregnado de charme do início ao fim... E a música? Peguei-o na locadora porque li uma entrevista no jornal em que Marina Person dizia que esse era o filme com final feliz mais feliz que ela já vira. E o final é realmente incrível! É maravilhoso pensar que duas pessoas que sabem que já se conheceram e já viveram um relacionamento que já se desgastou e que já os fez sofrer optem por viver seu amor novamente, porque sabem que vale a pena! É o cúmulo do romantismo! Comentei isso com meu filho, e ele me perguntou se eu namoraria novamente com o pai dele. Tristemente, disse-lhe que não. Já era de madrugada, e não era momento pra eu estar enumerando os motivos que tenho, e ele também não gostaria disso. Mas, no fundo, fiquei triste por não querer viver esse amor de novo. Porque no começo foi bom... Pena que tenhamos deixado durar demais... De qualquer forma, a coisa pode dar certo na ficção porque as lembranças foram apagadas, então a mente pode ter esse brilho eterno. Na vida real, é impossível, por mais que queiramos, apagar tudo. Os acontecimentos desagradáveis vêm em flashes e acabam tirando o brilho de tudo. É isso. Minha mente está opaca. E, infelizmente, sei que tenho que trabalhar isso, pra deixar de lado essa crença que adquiri de que todo relacionamento vai ter o mesmo fim. O fim da paixão, o desgaste da convivência, o aborrecimento, o desejo de liberdade. Preciso achar algum produto milagroso que dê polimento em meus neurônios...

(Ana Lucia Sorrentino em Desromance, a ser publicado nalgum dia, se Deus quiser...)